Quem tem ovários policísticos pode engravidar?

Quem tem ovários policísticos pode engravidar?

Uma das perguntas mais frequentes nos consultórios de especialistas em reprodução assistida é: quem tem ovários policísticos pode engravidar?

A dúvida é embasada pelo fato de que essa condição atrapalha o ciclo menstrual e a ovulação. Em consequência disso, as chances de engravidar naturalmente são menores.

Quer entender mais detalhes e desvendar as possibilidades de concepção mesmo com o problema? Continue lendo e confira!

Síndrome dos ovários policísticos e a infertilidade

Você sabia que a síndrome dos ovários policísticos (SOP) é uma das principais disfunções ovarianas relacionadas à infertilidade? Segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM),cerca de 40% das pacientes com essa condição sofrem de dificuldade para engravidar.

Portanto, saiba que é um distúrbio que causa desequilíbrio hormonal, interferindo diretamente na ovulação e desencadeando a formação de pequenos cistos. Dessa forma, uma mulher com SOP ovula menos e de maneira irregular.

De maneira geral, o que acontece é que os ovários não conseguem recrutar um folículo para que ele cresça e seja expelido, assim como acontece na ovulação.

Com isso, os gametas permanecem nos folículos, sendo impedidos de passar pelo processo natural de maturação, já que os hormônios que deveriam agir para torná-los aptos para a concepção estão totalmente desregulados.

No entanto, esse processo não acontece com todos os óvulos, pois alguns deles até conseguem se desenvolver para eclodir. Todavia, devido ao desequilíbrio hormonal, esses mesmos gametas não são capazes de seguir seu curso natural, o que impede que a fecundação ocorra naturalmente.

Alterações morfológicas

É preciso ressaltar ainda que, devido aos microcistos que surgem com a síndrome, toda a estrutura ovariana é modificada. O que acontece é que os ovários atingem um tamanho até três vezes maior do que o normal e, por isso, ficam fragilizados.

As causas para a ocorrência dessas alterações morfológicas ainda são indefinidas. O que se sabe é que parte dos fatores associados a esse processo é de ordem genética.

Ovários policísticos pode engravidar e como identificar o problema?

Um dos fatores de risco para a síndrome dos ovários policísticos e que também agravam o quadro é a obesidade. Por isso, o controle do peso sempre deve ser proposto como forma de tratamento, paralelamente a outras terapias.

Isso porque a origem da SOP pode estar relacionada à resistência do organismo à insulina. Então, é possível que a maior concentração dessa substância no sangue, processo denominado de hiperinsulinemia, seja responsável por provocar o desequilíbrio hormonal e o consequente aumento do peso.

Dentre os sintomas da SOP, podemos classificar como os mais característicos:

  • hirsutismo: que corresponde ao excesso de pelos em regiões tipicamente masculinas;
  • irregularidade no ciclo menstrual ou a ausência de menstruação;
  • dificuldade para dormir e cansaço frequente durante o dia;
  • resistência à insulina e, consequentemente, aumento de açúcar no sangue.

Na maioria das vezes, o organismo da mulher que demonstra todos esses sinais também apresenta grande quantidade de hormônios masculinos, fator que chamamos de hiperandrogenismo.

Nesse caso, as pacientes lidam com crescimento anormal de pelos nas regiões do baixo ventre, seios, queixo e buço; acne persistente; queda de cabelo; e manchas na pele.

Ao observarmos a presença desses sintomas, a doença é facilmente diagnosticada. No entanto, quando somente alguns dos sinais são identificados, o diagnóstico fica menos evidente.

O que fazer quando os sintomas não estão claros?

Quando a mulher está com suspeita de infertilidade e não há sintomas claros de que há uma disfunção ovariana, como a síndrome dos ovários policísticos, o diagnóstico para a dificuldade de engravidar fica confuso.

De forma geral, as manifestações clínicas da síndrome aparecem durante a infância ou nos anos que precedem a adolescência. Isso sugere que a SOP é influenciada por programação fetal e/ou eventos pós-nascimento precoces.

Dessa maneira, para realizar o diagnóstico da doença de forma correta, o ideal é manter a atenção para os critérios semelhantes aos usados para identificar disfunção ovulatória e hiperandrogenismo.

De qualquer forma, o que é indicado é manter sua saúde sempre muito bem monitorada, fazendo exames regulares e frequentando um médico de forma periódica. Somente um profissional qualificado saberá analisar os sintomas e evidências da síndrome dos ovários policísticos.

Além disso, quando há suspeitas de infertilidade, é recomendado que a mulher procure imediatamente um médico para identificar a causa do problema e evitar outras possíveis complicações.

Como é feito o diagnóstico da SOP?

Antes de saber se alguém com ovários policisticos pode engravidar, entenda que o diagnóstico da doença é feito com base nos exames de sangue e outros testes clínicos. Geralmente, os procedimentos que costumam ser solicitados medem os níveis hormonais a partir de dos seguintes indicadores:

  1. dosagem dos hormônios FSH (hormônio folículo-estimulante),LH (hormônio luteinizante),estradiol, TSH (hormônio tireoestimulante),SDHEA (sulfato de deidroepiandrosterona),testosterona total e 17-OH progesterona (verificado entre o 2º e o 3º dia do ciclo menstrual);
  2. medição da curva de insulina associada à curva de glicemia e teste de intolerância à insulina;
  3. ultrassom ginecológico transvaginal ou pélvico.

É importante lembrar que o ultrassom é um exame de imagem capaz de mostrar a presença de cistos nos ovários. No entanto, ainda é um procedimento insuficiente para identificar as causas da irregularidade menstrual e das outras manifestações, já que consiste em um complemento para o diagnóstico.

Converse com o seu médico para verificar quais exames devem ser realizados especificamente para o seu caso.

Como tratar a SOP?

O questionamento de muitas mulheres nessa situação é: a SOP pode ser curada?

Felizmente, existem algumas opções de tratamentos para a síndrome dos ovários policísticos. Como são muitos os sintomas desencadeados, foram desenvolvidos diversos cuidados para cada um deles.

Por esse motivo, a escolha da terapêutica a ser utilizada para conter a síndrome depende, basicamente, dos objetivos da mulher. Veja a seguir algumas opções:

Controle da obesidade

Em geral, as pacientes obesas tendem a sofrer menos com a doença, principalmente com os sintomas causados pelo hiperandrogenismo, a partir da diminuição do peso.

Caso seja essa a indicação de tratamento, a melhor forma de trabalhar o problema é mudando o estilo de vida da paciente. É ideal que ela passe a incorporar à sua rotina: uma dieta saudável, a prática de exercícios físicos e alterações comportamentais em relação aos hábitos diários.

Além disso, há situações em que a administração de drogas que diminuam os níveis de insulina pode ser efetiva, tanto em mulheres obesas, como nas que estão no peso saudável.

Medicamentos para resistência à insulina

Como você viu, a resistência à insulina é um dos problemas associados à SOP e pode dificultar tanto a perda de peso quanto a ovulação.

A metformina, um medicamento frequentemente utilizado no tratamento do diabetes tipo 2, é muitas vezes indicada para melhorar a sensibilidade do organismo à insulina.

Tratamento para sintomas estéticos

Além dos cuidados com a fertilidade, algumas mulheres buscam tratamento para os efeitos estéticos causados pelos ovários policísticos, como acne, queda de cabelo e crescimento excessivo de pelos.

Nestes casos, podem ser utilizados medicamentos antiandrogênicos ou tratamentos dermatológicos específicos, sempre sob orientação médica.

Apoio multidisciplinar

O tratamento da SOP não envolve apenas a abordagem médica, mas também o apoio de outros profissionais da saúde. Nutricionistas, endocrinologistas, psicólogos e educadores físicos contribuem para a melhora do quadro, auxiliando na perda de peso, no equilíbrio emocional e na adoção de hábitos mais saudáveis que favorecem a fertilidade.

Continuidade no tratamento é fundamental

De forma geral, o tratamento da SOP é feito para controlar o problema e exige atenção da mulher até a menopausa. Isto é, uma vez diagnosticada com SOP, os cuidados e manutenção da saúde devem ser contínuos.

Isso pois a falta de cuidados adequados pode ocasionar no retorno de todos os sintomas da doença relatados pela paciente antes do diagnóstico e do tratamento.

Complicações

Um agravante da SOP não tratada é o câncer no endométrio, que  surge em decorrência da ausência de menstruação.

Isso acontece pois o tecido que reveste a parte interna do útero é responsável por acomodar o embrião e, quando não há fecundação, é eliminado no sangue menstrual.

Dessa forma, há um acúmulo de endométrio na cavidade uterina, o que favorece o desenvolvimento de um tumor.

Ovários policísticos pode engravidar?

A dificuldade para ter um filho é uma consequência comum da síndrome dos ovários policísticos, como mencionamos anteriormente. Inclusive, a suspeita de que este seja o motivo limitante da gestação pode ser confirmada pela avaliação dos sintomas e do histórico médico da mulher.

Dessa forma, caso ela não possua problemas na tireoide ou na glândula suprarrenal, parte-se para a investigação da SOP. Quando o diagnóstico é confirmado, o tratamento é iniciado para evitar complicações.

No entanto, é importante considerar que, em qualquer momento em que seja realizado o diagnóstico, a mulher deve ser orientada sobre a preservação da fertilidade. O desejo de engravidar em um futuro próximo pode ser determinante na escolha da terapia para lidar com o problema.

Por isso, existem duas formas de tratar a SOP: uma se aplica às mulheres que desejam engravidar, enquanto a outra é indicada para aquelas que preferem adiar a maternidade ou não têm vontade de ser mães.

Como é o tratamento da SOP quando a mulher deseja ter filhos?

Quando a mulher ainda tem o desejo de engravidar, o tratamento consiste na prescrição de anticoncepcionais hormonais, logo no começo do tratamento, para regular a menstruação. O medicamento inibe o funcionamento dos ovários, juntamente com o processo de maturação dos folículos que dão origem aos óvulos.

Dessa forma, enquanto o organismo está sob efeito do contraceptivo, os ovários ganham tempo para se recuperar e poder exercer sua função novamente.

O órgão também permanece protegido da formação de cistos e, assim, o corpo consegue diminuir os níveis de hormônios masculinos e insulina. Depois que o ciclo menstrual é normalizado, o uso do medicamento é suspenso e as chances de ovulação e gravidez aumentam.

Medicamentos que induzem a ovulação

Além disso, quando a mulher decide que é o momento de engravidar, o especialista também pode prescrever medicamentos para induzir a ovulação. Durante cinco dias, a partir do terceiro, quarto ou quinto do ciclo, a paciente recebe uma dose diária do indutor.

A indução com coito programado é uma técnica de reprodução humana assistida de baixa complexidade, que mostra que quem tem ovários policísticos pode engravidar.

Existem diferentes fármacos que estimulam a formação de um óvulo, com variação de custo, efeitos e indicações. Por isso, a escolha do tipo de indutor a ser usado é feita de acordo com as condições de cada paciente.

A administração do medicamento pode ainda ser associada a outras medicações que tenham como função baixar os níveis de insulina no organismo.

Quem tem ovários policísticos pode engravidar?
Para mulheres que lidam com a SOP e querem engravidar, a indução da ovulação é uma das estratégias

A importância de acompanhar todo o processo

Toda mulher que induz a ovulação precisa fazer um acompanhamento por meio de ultrassonografias. Isso deve ser realizado desde o início do ciclo até a ovulação, em dias alternados, para verificar se o tratamento está sendo eficiente.

O primeiro exame é conduzido para identificar os folículos com melhores chances de liberar um gameta. Já na segunda ultrassonografia, é definido qual é o intervalo que casal deve manter relações sexuais para promover a fecundação. No último teste, o médico observa se o óvulo eclodiu.

Quando a mulher ovula durante o ciclo induzido, as chances de que haja fecundação são maiores. Caso contrário, é possível fazer, no máximo, mais duas tentativas.

E quando não há sucesso pela indução da ovulação?

Em pacientes em que a indução e o coito programado não resultaram em gravidez, uma alternativa é a fertilização in vitro (FIV). No entanto, esse é um tratamento que também requer a indução da ovulação e o acompanhamento constante com exames de imagem.

Porém, na FIV, o objetivo das ultrassonografias é averiguar se o momento certo para coletar os gametas completamente desenvolvidos estará completo para que possam ser coletados. Feito isso, o óvulo é retirado por punção vaginal e inserido em uma placa de Petri, juntamente com o espermatozoide.

Após essa etapa, os gametas permanecem mantidos juntos no interior de uma incubadora, que simula as condições das trompas para que ocorra a fecundação.

Depois que o espermatozoide encontra o óvulo e a concepção acontece, os chamados pré-embriões são implantados no útero da mulher. Transcorridos 10 a 12 dias da transferência para a cavidade uterina, a paciente já pode se submeter a um exame para confirmar a gravidez.

Sim, quem tem ovários policísticos pode engravidar!

Como você percebeu, com a evolução da medicina de reprodução assistida, quem tem ovários policísticos pode engravidar!

Para isso, existem tratamentos conservadores ou mais invasivos, como a FIV. As indicações são realizadas de forma personalizada, a depender das condições de saúde de cada paciente.

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Dr. Ricardo Nascimento

Especialidade: Ginecologista
CRM: CRM-SC 3198 e RQE 2109

Formado em Medicina pela Universidade Federal de Santa Catarina, em 1981. Residência Médica na Maternidade Carmela Dutra- Secretaria Estadual de Saúde-SC, Especialização em Reprodução Humana na Universidade Federal do Paraná.