É possível engravidar sem um bebê? Infelizmente, sim. A gravidez anembrionada ou gravidez anembrionária, uma condição rara, popularmente chamada de ovo cego, é um banho de água fria em quem ansiava pela maternidade. Nas primeiras semanas, tudo indica que a gestação está normal. A mulher sente os sintomas típicos do período e os testes hormonais dão positivo. Porém, quando é realizada a primeira ultrassonografia do pré-natal, aparece apenas o saco gestacional — sem o embrião.
Neste artigo, mostramos os principais aspectos sobre esse tipo de problema, bem como se ele impacta, ou não, nas futuras tentativas de engravidar. Confira, também, como a medicina reprodutiva pode ajudar. Boa leitura!
Quais são as causas da gravidez anembrionada?
A gravidez anembrionada pode ocorrer em qualquer mulher. Não há um grupo com maiores chances de desenvolvê-la e as causas do problema ainda não são completamente conhecidas.
Tudo indica, porém, que essa condição pode ser consequência de uma falha genética na união dos gametas. Acredita-se que essa condição ocorra porque uma parte do óvulo fertilizado, que formaria o bebê (embrioblasto),não se desenvolve. Já a outra parte, a qual dá origem à placenta e às membranas, desenvolve-se normalmente dentro do útero.
A despeito disso, o organismo da mulher não consegue reconhecer que não existe um embrião dentro do útero, já que os hormônios próprios da gestação continuam sendo produzidos. São esses hormônios que fazem com que ela acredite que, realmente, está grávida e que levam aos testes positivos.
Na prática, o corpo da mulher passa pelas mudanças do período gestacional, inclusive com sintomas característicos (interrupção da menstruação, enjoos, sensibilidade nos seios, etc). Ao mesmo tempo, não costumam existir sinais clínicos que sugiram alguma anormalidade, como sangramentos vaginais ou fortes cólicas abdominais.
Como é o diagnóstico e o desfecho da gravidez anembrionada?
O diagnóstico de gravidez anembrionada é feito por meio da ultrassonografia transvaginal, realizada, geralmente, a partir da 7ª semana de gestação. No entanto, a confirmação é dada apenas quando o saco gestacional mede mais do que 20 mm e não foi encontrado nenhum sinal do embrião.
Nessas circunstâncias, pode-se adotar a chamada conduta expectante, ou seja, esperar por um aborto espontâneo — o qual pode demorar várias semanas. Logicamente, o estado emocional da mulher deve ser levado em conta na definição da estratégia de tratamento.
Em algumas, devido à angústia gerada pelo quadro de insucesso da gravidez, acaba-se administrando substâncias químicas que induzem o aborto. Em seguida, realiza-se a retirada do saco embrionário vazio, por meio de curetagem uterina ou aspiração manual intrauterina (A.M.I.U.). Além disso, a curetagem ou a A.M.I.U. também são necessárias quando o aborto espontâneo não é completo.
Quem teve o problema uma vez, pode apresentá-lo novamente?
O fato de passar por um episódio de gravidez anembrionada não aumenta as chances de o evento se repetir. Tanto que muitas dessas mulheres conseguem ter gestações normais no futuro.
Dr. Ricardo Nascimento, ginecologista da Clínica Fecondare (CRM-SC 3198),por sua vez, ressalta que, afortunadamente, a gestação anembrionada é um evento raro. Ainda assim, seu achado é sempre uma surpresa desagradável, tanto para a mulher ou o casal como para os médicos que fazem seu acompanhamento. Isso porque, como os sintomas habituais de abortamento não ocorrem, o fato só se torna concreto com a realização da ultrassonografia solicitada na rotina do pré-natal.
A ausência do embrião, porém, não diminui a dor da perda gestacional por parte da mulher ou do casal. Afinal, a expectativa já havia sido criada. Por isso, além do apoio dado pela equipe médica, é importante ressaltar que o evento não é repetitivo e que, pelos conhecimentos atuais, não representa um fator de risco para as próximas gravidezes.
Quem teve uma gravidez anembrionada, ficou ou não ficou grávida?
Ficou. No entanto, Dr. Jean Maillard, ginecologista da Clínica Fecondare (CRM-SC 9987),esclarece que a mulher não deve acreditar que estava esperando um bebê. “Ela, de fato, ficou grávida, pois a presença de saco gestacional com placentação inicial só ocorre após fecundação do óvulo e sua nidação no útero. Mas, neste caso, a gravidez não se desenvolve, pois o embrião não se forma — o que leva à interrupção da gestação”, esclarece o especialista.
Assim, independentemente do que se faça, a evolução desse tipo de quadro será para a expulsão do produto da concepção. “Hoje, graças ao diagnóstico muito precoce obtido por meio da ultrassonografia transvaginal, as atitudes (geralmente, a curetagem uterina) acabam ocorrendo antes disto”, complementa Dr. Jean.
Quando é possível recomeçar as tentativas de engravidar?
Dr. Ricardo afirma que é possível começar a tentar engravidar após a recuperação física e psicológica da mulher. Nesse sentido, vale a pena fazer o acompanhamento com um especialista em reprodução humana e, se necessário, sessões de psicoterapia para casais tentantes.
Quem enfrenta uma gravidez anembrionada não precisa ter receio de passar pelo problema novamente. Na imensa maioria dos casos, trata-se de um incidente isolado, devido a um erro na fecundação.
Porém, caso não seja a primeira vez que ela ocorre, é necessário promover uma investigação do cariótipo. Trata-se de um exame que faz a análise dos cromossomos do casal, bastante usado em investigações de abortos de repetição.
Quais são os fatores de risco e qual é a incidência desse tipo de problema?
O principal fator de risco são as anormalidades cromossômicas. Essas incluem:
- trissomia autossômica poliploidia;
- polissomia cromossômica sexual e
- monossomia X.
A American Pregnancy Association acredita que a gravidez anembrionada constitui uma porção significativa do total de abortos espontâneos de que se tem registro. De acordo com a instituição, estima-se que essa condição seria responsável por metade das perdas gestacionais ocorridas no primeiro trimestre.
Vale destacar que boa parte das mulheres sequer descobre que passou por uma perda gestacional, principalmente, quando essa ocorre nas primeiras semanas de gravidez. Por isso, o percentual pode ser ainda maior.
Como o especialista em reprodução assistida pode ajudar?
Procurar um especialista em reprodução humana assistida, após passar por esse ou outro tipo de dificuldade para engravidar, possibilita prevenir ou tratar eventuais problemas. Nesses casos, o acompanhamento costuma ser multidisciplinar e individualizado.
Por exemplo: enquanto o ginecologista cuida das questões físicas, o psicólogo ajuda a lidar com uma experiência potencialmente traumática. Um bom gerenciamento da saúde mental faz toda a diferença na recuperação das tentantes, aumentando suas chances de engravidar!
Para concluir, a gravidez anembrionada é uma possibilidade a qual todos estão sujeitos, seja tentando engravidar naturalmente ou de maneira assistida. Caso ocorra, é importante buscar ajuda para lidar com a situação e seguir em frente, respeitando seu tempo e seus desejos.
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