A fertilidade feminina está intrinsecamente relacionada à reserva ovariana. Isso porque, a partir dos 35 anos de idade, ocorre não apenas a redução da quantidade, mas também da qualidade dos óvulos disponíveis para a fecundação.
Por outro lado, cada vez mais mulheres desejam adiar a maternidade, por diferentes razões. Será que esse comportamento é incompatível com o relógio biológico?
Neste material, iremos mostrar que, com um bom acompanhamento e planejamento, as mulheres podem ter mais controle sobre sua capacidade reprodutiva. Para entender melhor, continue a leitura.
Qual é a taxa de fecundidade no Brasil?
Quando falamos de reserva ovariana, precisamos entender o contexto em que vivemos. O Brasil acompanha a tendência de vários países ocidentais de queda da fecundidade. Segundo o Censo Demográfico de 2022, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),o número de filhos por mulher é o menor da história.
A taxa foi de 1,6 filho por brasileira, abaixo do que é indicado como o ideal para a reposição populacional (2,1). Para comparar, saiba que, em 1960, esse número era de 6,3.
A idade média para o primeiro filho foi de 28,1. Além disso, o IBGE registrou aumento de fecundidade em todas as faixas etárias acima de 30 anos e diminuição naquelas abaixo de 24.
A queda no número de nascimentos se deve, em grande parte, ao fato de muitas mulheres optarem por adiar a gestação até um momento mais oportuno. Para algumas, antes da maternidade, é preciso conseguir estabilidade econômica e ascensão profissional.
É preciso ainda considerar o empoderamento trazido pelos métodos contraceptivos, que proporcionam maior poder de escolha sobre o momento ideal para engravidar.
Como o cenário atual compromete a reserva ovariana?
Socialmente, esperar para engravidar pode ser uma escolha sensata. Biologicamente, nem tanto. Afinal, as mulheres detêm melhores taxas de fecundidade até os 35 anos de idade.
Após esse período, alguns fatores naturais, decorrentes do próprio envelhecimento, começam a influenciar o organismo, aumentando o risco de infertilidade. Sabe-se que, entre 35 e 39 anos, a taxa de fertilidade feminina é, pelo menos, 25% menor do que em fases mais jovens.
Esse decréscimo decorrente do avanço da idade se deve a alguns fatores. Conheça-os a seguir.
Diminuição da reserva ovariana
As mulheres já nascem, em média, com 2 milhões de óvulos. Na puberdade, esse número cai para 300 mil.
Na idade fértil, uma mulher normal ovula entre 300 e 500 óvulos. Porém, com o passar dos anos, as células remanescentes no ovário também envelhecem, o que diminui a capacidade de fertilização e aumenta a dificuldade de implantação dos embriões.
Qualidade dos óvulos
Como mencionado, a qualidade dos óvulos reduz com o envelhecimento. Por isso, o avanço da idade está associado a uma incidência maior de anormalidades cromossômicas e, como consequência, a uma maior taxa de abortamento.
Problemas de saúde
Problemas ginecológicos, como a endometriose, são mais frequentes em mulheres acima dos 35 anos. Conforme a idade aumenta, maiores são as chances dela ser afetada por essas condições, que interferem diretamente na fertilidade.
Pouca libido
A função sexual também pode ser impactada pela idade. Dentre as ocorrências mais comuns estão a diminuição da libido e da frequência de relações sexuais.
Como avaliar a reserva ovariana e a fertilidade?
Os cerca de 300 mil óvulos que a mulher detém na puberdade constituem sua reserva ovariana. Avaliar qual é a condição desse “estoque” é relevante, por exemplo, para decidir até quando é possível adiar a maternidade ou se uma boa opção é congelar os óvulos para dispor dos mais saudáveis em uma futura gravidez. Veja como isso pode ser feito.
Contagem de folículos antrais
A contagem de folículos antrais é um recurso que, isoladamente ou associado às dosagens hormonais, possui grande acurácia na previsão da reserva ovariana. Ela deve ser realizada por meio de ultrassonografia transvaginal, no segundo ou terceiro dia da menstruação, e por profissional médico da área reprodutiva.
Exames hormonais
Existem vários exames hormonais que permitem avaliar a reserva ovariana. Geralmente, eles são feitos no terceiro dia do ciclo menstrual. Conheça-os a seguir.
FSH
O hormônio folículo estimulante (FSH, na sigla em inglês) é responsável pelo crescimento e maturação dos folículos ovarianos durante a maturação do óvulo. Na primeira fase do ciclo menstrual, a quantidade desse hormônio por mililitro de sangue é mais alta.
A dosagem do FSH é um dos critérios que o médico especialista em reprodução humana assistida avalia para determinar qual é a chance de a mulher submetida ao exame conceber um filho. Para um melhor prognóstico, as dosagens devem estar abaixo de 10 UI/ml.
Estradiol
O estradiol é um hormônio responsável pelo crescimento dos seios e alongamento das trompas, entre outras características femininas. Ele é produzido pelos ovários, na fase pré-ovulatória.
A função do estradiol é, basicamente, estimular a maturação dos óvulos e fazer com que o endométrio (membrana mucosa que reveste a parede uterina) fique mais grosso e receptivo para o óvulo fecundado. Assim, caso a dosagem esteja elevada, indica-se uma reserva ovariana baixa.
Inibina-B
A inibina é um potente inibidor da secreção de FSH. Mulheres que, no terceiro dia do ciclo menstrual, apresentam concentrações de inibina-B abaixo do normal podem deter uma baixa reserva ovariana. Dessa forma, há uma indicação de uma menor resposta das pacientes quando submetidas à fertilização assistida.
LH
O hormônio luteinizante (LH, na sigla em inglês) é produzido na hipófise (glândula pituitária). Ele tem um papel fundamental no ciclo menstrual, pois trabalha em conjunto com o FSH na maturação e liberação do óvulo para fecundação.
A quantidade de LH na corrente sanguínea da mulher varia ao longo do ciclo menstrual e muda com a gravidez. Em geral, a dosagem mais elevada do que o normal pode significar ausência dos ovários ou que eles não estão funcionando.
Prolactina
A prolactina é outro hormônio produzido pela hipófise. Ela está relacionada ao controle dos hormônios femininos. A medição busca a quantidade da substância que está sendo produzida e, mediante o resultado, avalia a presença de patologias associadas.
AMH
Os níveis de hormônio anti-mulleriano (AMH, na sigla em inglês) servem como marcador do envelhecimento ovariano. A dosagem pode ser realizada em qualquer fase do ciclo menstrual, mas trabalhos recentes mostram um menor valor em mulheres que usam anticoncepcional hormonal.
Diagnóstico por imagem e reserva ovariana
Além da verificação dos níveis hormonais, a análise da reserva ovariana também pode ser feita por meio de exames de imagem. Uma ultrassonografia transvaginal, realizada no mesmo dia em que as amostras de sangue ou urina são coletadas, permite contar quantos óvulos estarão disponíveis nesse ciclo. Sabe-se que, quanto mais baixo o número, menor a reserva ovariana.
Ao congelar meus óvulos, vou diminuir minha reserva ovariana?
Uma das perguntas mais comuns entre as pacientes que têm o desejo e/ou a necessidade de congelar os óvulos é se a técnica pode comprometer suas reservas ovarianas.
Felizmente, o congelamento de óvulos não afeta a quantidade, nem a qualidade, dos gametas femininos. Por isso, as mulheres que se submetem ao procedimento não precisam se preocupar se, por acaso, decidirem antecipar os planos de engravidar. Seu “estoque” será o mesmo.
O processo é realizado em etapas. São elas:
- estimulação ovariana, feita com o uso de medicamentos indutores de ovulação, o que leva de 10 a 12 dias;
- punção folicular, realizada para coletar os ovócitos dentro dos folículos ovarianos, o que demora de 15 a 30 minutos;
- vitrificação, congelamento instantâneo feito logo após a análise dos ovócitos extraídos;
- armazenamento dos óvulos, realizado em pequenos containers de nitrogênio líquido.
Um ponto que precisa ficar bem explicado é o porquê do uso dos indutores de ovulação. Esses medicamentos hormonais são necessários para que a mulher produza mais de um óvulo por ciclo.
Quais são os possíveis efeitos colaterais?
Em uma pequena parcela das pacientes (de 3 a 6%),o uso dos medicamentos indutores de ovulação pode levar à síndrome da hiperestimulação ovariana. Entre os sintomas dessa condição, destacam-se:
- inchaço no abdômen, nos tornozelos e nas mãos;
- náuseas e vômitos;
- fraqueza, cansaço excessivo e mal-estar;
- dificuldade para respirar;
- dores de cabeça e maior irritabilidade;
- aumento da sensibilidade mamária;
- ganho de peso em pouco tempo.
Em um percentual ainda menor (de 0,1 a menos que 2%),os indutores provocam efeitos colaterais graves, que precisam ser tratados. São eles:
- aumento do tamanho dos ovários;
- formação de coágulos sanguíneos;
- dor intensa no abdômen; entre outros.
No entanto, sabe-se que alguns perfis têm mais chances de desenvolver problemas com os medicamentos indutores. É o caso, por exemplo, de mulheres com ovários policísticos, com contagem elevada de folículos e com nível de hormônio anti-mulleriano alto.
Nesses quadros clínicos, o tratamento deve ser o mais individualizado possível, para reduzir o risco de efeitos colaterais ao máximo.
Converse com seu médico sobre sua reserva ovariana
Queira você engravidar agora ou esperar alguns anos, a reserva ovariana precisa ser um assunto conversado com o seu médico ginecologista. Afinal, a saúde reprodutiva nunca pode ser deixada de lado.
Na Fecondare, temos uma ampla equipe de especialistas que podem auxiliá-la nesse e outros assuntos de planejamento familiar. Portanto, caso você tenha alguma dúvida, entre em contato e venha conversar conosco!