A fertilidade feminina tem tudo a ver com a reserva ovariana. Isso porque, a partir dos 35 anos de idade ocorre não apenas a redução da quantidade, mas também da qualidade dos óvulos disponíveis para a fecundação. Por outro lado, cada vez mais mulheres desejam adiar a maternidade, por diferentes razões. Mas será que esse comportamento é incompatível com o relógio biológico?
Neste conteúdo, iremos mostrar que, com um bom acompanhamento, as mulheres podem ter mais controle sobre sua capacidade reprodutiva. Para entender melhor, continue a leitura.
Qual é a taxa de fecundidade no Brasil?
A projeção do crescimento populacional brasileiro é de queda contínua. Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBEG),entre 2000 e 2015, a taxa de fecundidade total (número médio de filhos nascidos vivos até o final do período reprodutivo) caiu de 2,39 para 1,72 filhos por mulher.
Nos últimos anos, segundo a Síntese de Indicadores Sociais 2014 (SIS), feita a partir de dados da Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio (PNAD),foi possível observar um aumento constante na quantidade de mulheres que não tiveram filhos. Em 2002, 32,2% das mulheres de 25 a 29 anos de idade não tinham filhos; uma década mais tarde, este indicador atingiu 40,5% das mulheres na mesma faixa etária.
O que explica o adiamento da maternidade?
A queda no número de nascimentos se deve, em grande parte, ao fato de muitas mulheres optarem por adiar a gestação até um momento mais oportuno. Para algumas, antes da maternidade, é preciso conseguir estabilidade econômica e ascensão profissional; para outras, o adiamento têm a ver com o medo da instabilidade no emprego.
Além disso, é preciso considerar o empoderamento trazido pelos métodos contraceptivos, que proporcionam à mulher maior poder de escolha sobre o momento ideal para engravidar. Tudo isso tem contribuído para o adiamento das gestações.
Como o cenário atual compromete a reserva ovariana?
Socialmente, esperar para engravidar pode ser uma escolha sensata. Biologicamente, nem tanto. Isso porque, as mulheres detêm melhores taxas de fecundidade até os 35 anos de idade.
Após esse período, alguns fatores naturais, decorrentes do próprio envelhecimento, começam a influenciar o organismo, aumentando o risco de infertilidade. Sabe-se que, entre 35 e 39 anos, a taxa de fertilidade feminina é, pelo menos, 25% menor do que quando se é mais jovem.
Esse decréscimo, decorrente do avanço da idade se deve a alguns fatores. Conheça-os a seguir.
Diminuição da reserva ovariana
As mulheres já nascem, em média, com 2 milhões de óvulos. Na puberdade, esse número cai para 300 mil.
Na idade fértil, uma mulher normal ovula entre 300 e 500 óvulos. Porém, com o passar dos anos, os óvulos remanescentes no ovário também envelhecem — o que diminui sua capacidade de fertilização e aumenta a dificuldade de implantação dos embriões.
Qualidade dos óvulos
Como mencionado, a qualidade dos óvulos diminui com o envelhecimento. Por isso, o avanço da idade está associado a uma incidência maior de anormalidades cromossômicas e, como consequência, a uma maior taxa de abortamento.
Problemas de saúde
Problemas ginecológicos, como a endometriose, são mais frequentes em mulheres acima dos 35 anos. Conforme a idade da mulher aumenta, maiores são as chances dela ser afetada por essas condições, que interferem diretamente na fertilidade.
Pouca libido
A função sexual também pode ser afetada pela idade. Dentre as ocorrências mais comuns, estão a diminuição da libido e da frequência de relações sexuais.
Como avaliar a reserva ovariana e a fertilidade?
Os cerca de 300 mil óvulos que a mulher detém na puberdade constituem sua reserva ovariana. Avaliar qual é a condição dessa reserva é relevante, por exemplo, para ela decidir até quando é possível adiar a maternidade ou se uma boa opção é congelar os óvulos para dispor dos mais saudáveis em uma futura gravidez. Veja como isso pode ser feito.
Contagem de folículos antrais
A contagem de foliculos antrais é um recurso que, isoladamente ou associado às dosagens hormonais, tem grande acurácia na previsão da reserva ovariana. Ela deve ser realizada por meio de ultrassonografia transvaginal, no segundo ou terceiro dia da menstruação, e por profissional médico da área reprodutiva.
Exames hormonais
Existem vários exames hormonais que permitem avaliar a reserva ovariana. Geralmente, eles são feitos no terceiro dia do ciclo menstrual. Conheça-os a seguir.
Dosagem do FSH
O hormônio folículo estimulante (FSH, na sigla em inglês) é responsável pelo crescimento e maturação dos folículos ovarianos durante a maturação do óvulo. Na primeira fase do ciclo menstrual, a quantidade desse hormônio por mililitro de sangue é mais alta.
A dosagem do FSH é um dos critérios que o médico especialista em reprodução humana assistida avalia para determinar qual é a chance de a mulher submetida ao exame conceber um filho. Para um melhor prognóstico, as dosagens devem estar abaixo de 10 UI/ml.
Dosagens do estradiol
O estradiol é um hormônio responsável pelo crescimento dos seios, alongamento das trompas, entre outras características femininas. Ele é produzido pelos ovários, na fase pré-ovulatória.
A função do estradiol é, basicamente, estimular a maturação dos óvulos e fazer com que o endométrio (membrana mucosa que reveste a parede uterina) fique mais grosso e receptivo para o óvulo fecundado. Assim, se a dosagem do estradiol estiver elevada, indica-se uma reserva ovariana baixa.
Dosagem da inibina-B
A inibina é um potente inibidor da secreção de FSH. Mulheres que, no terceiro dia do ciclo menstrual, apresentam concentrações de inibina-B abaixo do normal podem deter uma baixa reserva ovariana. Assim, uma baixa dosagem de inibina B indica uma menor resposta dessas mulheres quando submetidas à fertilização assistida.
Dosagem de LH
O hormônio luteinizante (LH, na sigla em inglês) é produzido na hipófise (glândula pituitária). Esse hormônio tem um papel fundamental no ciclo menstrual, pois trabalha em conjunto com o FSH na maturação e liberação do óvulo para fecundação.
A quantidade de LH na corrente sanguínea da mulher varia ao longo do ciclo menstrual e muda com a gravidez. Em geral, a dosagem de LH mais elevada do que o normal pode significar ausência dos ovários ou que eles não estão funcionando.
Dosagem de prolactina
A prolactina é outro hormônio produzido pela hipófise. Ela está relacionada ao controle dos hormônios femininos. A dosagem de prolactina é usada para medir a quantidade de hormônio que está sendo produzida e, mediante o resultado, avaliar a presença de patologias associadas.
Dosagem de AMH
Os níveis de hormônio anti-mulleriano (AMH, na sigla em inglês) servem como marcador do envelhecimento ovariano. A dosagem de AMH pode ser realizada em qualquer fase do ciclo menstrual, mas trabalhos recentes mostram um menor valor em mulheres que usam anticoncepcional hormonal.
Diagnóstico por imagem
Além da verificação dos níveis hormonais, a análise da reserva ovariana também pode ser feita por meio de exames de imagem. Uma ultrassonografia transvaginal, realizada no mesmo dia em que as amostras de sangue ou urina são coletadas, permite contar quanto óvulos estarão disponíveis nesse ciclo. Sabe-se que, quanto mais baixo o número, menor a reserva ovariana.
Os resultados dos exames determinam as chances de engravidar?
Não necessariamente. A existência de alteração nos exames não significa que a mulher não conseguirá engravidar. Demonstram apenas que, quando ela quiser se tornar mãe, poderá enfrentar dificuldades.
A boa notícia é que a maior parte desses entraves pode ser contornada por meio de técnicas de reprodução humana assistida. Mas para ter um prognóstico favorável, não se deve esperar muito para definir uma estratégia de planejamento gestacional.
Tomando os devidos cuidados, nada impede que as mulheres adiem a decisão de se tornarem mães para um momento mais propício. É o que leva muitas delas, cientes do impacto do relógio biológico, mas sem o desejo de engravidar no presente, a optarem por técnicas de criopreservação (congelamento) de óvulos ou embriões. Essa é a melhor maneira de assegurar uma reserva ovariana de boa qualidade para se, um dia, decidirem ter um filho!
Esperamos que a leitura tenha sido esclarecedora. Para se aprofundar no assunto, fica o nosso convite para ler o artigo sobre a avaliação da reserva ovariana através da dosagem do hormônio anti-mulleriano.