Publicado em 30/05/2021

Tricomoníase na gravidez: quais os riscos?

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tricomoníase na gravidez é uma condição séria, que precisa de tratamento para preservar a vida da mãe e do bebê. Trata-se de uma doença sexualmente transmissível (DST) causada por um protozoário, o Trichomonas vaginalis. A parasitose é transmitida por pessoas infectadas, por meio de relações sexuais desprotegidas — sem o uso de preservativos — e pode atingir tanto mulheres como homens.

Neste artigo, mostramos como tratar a doença, bem como as principais consequências da tricomoníase na gravidez. Vale destacar que, ainda que o tratamento não diminua o risco de parto prematuro, ele é essencial para evitar complicações mais sérias. Confira a seguir!

Como é a incidência da tricomoníase?

A incidência da infecção pelo Trichomonas vaginalis é maior em grávidas do que no restante da população feminina. Esse aumento se deve, entre outros fatores, às mudanças hormonais que acontecem nesse período.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS),é provável que cerca de 25 milhões de gestantes estejam infectadas com tricomoníase — considerada a DST não viral mais comum do mundo. O parasita causador da doença costuma viver na vagina, na uretra ou no colo uterino, embora também possa ser encontrado em outras partes do sistema geniturinário.

Quais são os sintomas da doença?

Uma vez no organismo, o Trichomonas vaginalis causa inflamação e microlesões (pequenas úlceras) na parte interna dos órgãos reprodutores femininos. Além disso, pode facilitar o desenvolvimento de outras DSTs, inclusive, o HIV (vírus causador da Aids).

Porém, um dos grandes desafios relacionados à doença é que, em cerca de 30% dos casos, a tricomoníase não apresenta nenhum tipo de sintoma por longos períodos. Isso dificulta o diagnóstico precoce.

Como é o diagnóstico da tricomoníase?

Quando sintomática, a tricomoníase pode ser discreta ou se manifestar por meio de uma severa vaginite. Nesse caso, apresenta corrimento abundante e característico (amarelo-esverdeado),de aspecto espumoso, purulento e com mau cheiro.

Além disso, costuma provocar irritação da vulva, prurido, coceira nos genitais, sangramento e dor após relação sexual. Também pode gerar sintomas urinários, tais como dificuldade e dor ao urinar.

Na investigação clínica, todos esses incômodos são vistos como prováveis sinais da doença. A partir de então, é preciso realizar o diagnóstico laboratorial. Isso é feito por meio do método da cultura, considerado como padrão-ouro.

Assim, colhe-se uma amostra de secreção vaginal para posterior análise microscópica. Em 70% dos casos, o patologista consegue enxergar o protozoário se mexendo. Se não for possível identificá-lo, realizam-se testes complementares, como preparações coradas, reação em cadeia de polimerase (PCR),entre outros.

Como tratar a tricomoníase na gravidez?

Quando uma gestante testa positivo para a tricomoníase, é fundamental que o tratamento seja feito corretamente. O objetivo é erradicar, definitivamente, o agente causador da doença, para evitar complicações tanto na mulher como no bebê.

De maneira geral, indica-se o uso de antibióticos. O tratamento tópico (utilizado na vagina) também pode ser recomendado.

É importante considerar que todas as gestantes, quando apresentam sintomas e confirmam o diagnóstico, devem ser tratadas com dose única de metronidazol 2g VO. Trata-se do mesmo medicamento utilizado para tratar DSTs.

Nas pacientes sintomáticas, o tratamento deve ser realizado independentemente do estágio da gestação. Quando não apresentarem melhora, recomenda-se um tratamento alternativo, com metronidazol 500mg VO a cada 12 horas, por sete dias, ou metronidazol 250mg VO a cada 8 horas, pelo mesmo período. Ou, ainda, a troca da medicação.

Como proceder em gestantes assintomáticas?

Quando a gestante não apresenta nenhum tipo de sintoma, é necessário avaliar os riscos e benefícios do tratamento em cada situação. Isso porque alguns estudos mostram a possibilidade de que a criança nasça prematura sob o uso do metronidazol. Portanto, o ideal é entrar com a medicação somente após a 37ª semana de gestação.

Em certos casos, o tratamento para tricomoníase pode ser ainda mais adiado, sendo realizado durante o período de amamentação. Porém, há um inconveniente: o leite pode adquirir um gosto metálico, prejudicando a aceitação da criança.

Qual é a importância do tratamento da tricomoníase na gravidez?

Além de amenizar os sintomas na mulher, o tratamento evita novos episódios de transmissão sexual e, também, de transmissão vertical, pois a infecção do bebê ocorre durante a passagem pelo canal do parto. Dessa maneira, previne que o recém-nascido desenvolva problemas como:

  • infecção genital (ainda que essa, geralmente, seja autolimitada);

  • baixo desenvolvimento intelectual;

  • infecção das vias respiratórias;

  • endometrite pós-parto;

  • baixo peso ao nascer.

Mas é importante considerar que, após a infecção pela tricomoníase, o tratamento não diminui os riscos do parto prematuro. Ainda assim, é fundamental para evitar complicações mais severas, como as citadas.

O parceiro também precisa realizar o tratamento?

Sim. Embora uma pequena parcela dos homens apresente inflamação na uretra, a maioria não percebe alterações, mesmo estando infectados. Ainda assim, precisam se tratar.

Isso porque, para o tratamento da tricomoníase na gravidez ser eficaz, é essencial que o parceiro seja tratado, simultaneamente, com a medicação. Isso vale mesmo sem prescrição diagnóstica.

E tem mais: enquanto estiver tomando a medicação, o homem deve evitar o consumo de bebidas alcoólicas. Isso pode desencadear o efeito antabuse, provocando náuseas, tonturas, mal-estar, vermelhidão na face e gosto metálico na boca.

Mas infelizmente, a resistência de alguns homens em aderir ao protocolo de tratamento é conhecida. Esse comportamento é mais um fator de risco para que a doença continue se disseminando no organismo da mulher.

Por isso, os especialistas orientam que, durante o tratamento, as relações sexuais sejam evitadas. A mulher deve aguardar até que seu organismo se restabeleça, para evitar a piora do quadro e o surgimento de novas doenças. E mesmo após a medicação, o uso do preservativo é imprescindível.

Qual é a importância do acompanhamento médico?

Estima-se que 20% das mulheres desenvolvam tricomoníase durante a vida sexual. Por essas e outras, com ou sem sintomas, é fundamental estar atenta à saúde, buscando a prevenção de doenças. Então, visite, periodicamente, seu ginecologista e mantenha a rotina de exames em dia.

Sem o devido tratamento, a tricomoníase é um potencial fator de risco para a doença inflamatória pélvica (DIP) e o câncer de colo de útero. Além disso, pode estar por trás de quadros de infertilidade. Sabe-se que mulheres com mais de um episódio de infecção têm maior risco de infertilidade do que as que nunca tiveram a doença.

Outro ponto importante é que, diferente das outras DSTs (como gonorreia e clamídia),a prevalência da tricomoníase aumenta com o avanço da idade. Geralmente, tratam-se de:

  • mulheres com infecções assintomáticas e de longa duração, não diagnosticadas;

  • pacientes que tiveram reinfecção, por conta de falhas ou não-adesão à terapia.

A boa notícia é que, quando corretamente tratada, o índice de cura é excelente. Por isso, a hipótese de tricomoníase na gravidez deve sempre ser checada. Em caso de suspeita, relate seu histórico para o médico, a fim de otimizar o pré-natal e prevenir complicações para o bebê. E não custa reforçar: adote sempre um comportamento preventivo. Afinal, qualquer DST pode ser evitada com o uso de preservativos!

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Publicado por: Dr. Jean Louis Maillard - Ginecologista - Diretor técnico médico - CRM-SC 9987 , CRM-RS 13107 e RQE 5605
Ginecologista formado na Faculdade de Medicina da PUCRS em 1983, com residência médica em Ginecologia e Obstetrícia, Precertopship de Histeroscopia e Fellow nos Hospitais Tenon e Port Royal em Paris

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