Câncer e infertilidade possuem uma relação complexa e muitas vezes desafiadora. Em mulheres, o tratamento do câncer pode causar danos irreversíveis à fertilidade.
Por isso, uma nova área na medicina reprodutiva, comumente descrita como oncofertilidade, oferece tratamentos contra a infertilidade feminina, bem como formas de prevenir possíveis prejuízos aos órgãos e funções reprodutivas.
Segundo a Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), a oncofertilidade envolve identificar precocemente a doença, para encaminhar os pacientes a especialistas em reprodução assistida. Dessa forma, é possível fornecer orientação sobre as opções de preservação da fertilidade.
Existem diversos métodos de prevenção da infertilidade feminina, que com o passar dos anos e avanços na medicina, vêm sendo desenvolvidos e aperfeiçoados. Para conhecê-los, continue a leitura!
Como é o prognóstico de pacientes com câncer?
O prognóstico de pacientes com câncer varia de acordo com o tipo, estágio e tratamento da doença. É válido destacar que os avanços na medicina têm aumentado as taxas de sobrevida, permitindo que muitos pacientes superem o câncer.
Além disso, no início dos anos 1990, foi criado o movimento internacional conhecido como Outubro Rosa. Desde então, o mês é celebrado com o intuito de promover o acesso à informação em prol da conscientização sobre o câncer de mama.
O principal objetivo da campanha é ampliar a procura e adesão aos serviços de diagnóstico e tratamentos. E tem dado certo!
Graças a melhora na vigilância e terapêuticas, observa-se um decréscimo das taxas de mortalidade entre as pacientes com cânceres de todos os tipos. Isso permite, mais do que focar na sobrevivência, que elas possam pensar na qualidade de vida — é aí que entra a capacidade de preservar a fertilidade.
Como o câncer afeta a fertilidade?
Geralmente, os tratamentos gonadotóxicos (que afetam as gônadas) são os que mais contribuem para a sobrevida, tanto entre adultos como crianças diagnosticadas com câncer. Porém, na maior parte dos casos, essa abordagem emprega altas doses de agentes alquilantes (drogas antineoplásticas) e terapias com radiação.
Por conta disso, não raro ocorrem prejuízos à fertilidade. O impacto na reserva ovariana decorre da diminuição acelerada das células germinativas primordiais.
Entre as mulheres que se submeteram à quimioterapia ou à radioterapia pélvica, o risco de ficar infértil, principalmente naquelas que têm entre 30 e 35 anos, é de mais de 50%. Além disso, a incidência de menopausa precoce também aumenta, ocorrendo de 5 a 20 anos antes do período estimado.
Quais tipos de câncer afetam a fertilidade?
Embora qualquer tipo de câncer possa potencialmente afetar a fertilidade, nem todos os tipos de câncer prejudicam a capacidade reprodutiva. Ou seja, alguns apresentam maior risco do que outros.
Para estimar o risco, deve-se fazer uma avaliação individualizada, considerando:
- o sexo;
- a idade;
- o tipo de câncer e seu grau de agressividade;
- o tipo de tratamento escolhido.
No que diz respeito às mulheres, quanto mais próximo da menopausa, maior a preocupação com a preservação da fertilidade. Nessa fase, a função ovariana e a quantidade de óvulos já se encontram bastante reduzidas.
Sabe-se que, acima dos 45 anos, a chance de uma mulher engravidar, naturalmente, são poucas. Por outro lado, em mulheres jovens que desejam se tornar mães, preservar a fertilidade é imprescindível.
Câncer e infertilidade no homem
Até este ponto, discutimos como o câncer pode impactar a fertilidade em geral, especialmente nas mulheres, mas é importante reconhecer que homens também enfrentam desafios significativos. O câncer de testículo, por exemplo, é uma das formas mais comuns de câncer em homens jovens.
Um dos principais desafios enfrentados por pacientes com câncer de testículo é o impacto direto da doença nos testículos. Esses órgãos são responsáveis pela produção de espermatozoides e pela secreção de hormônios sexuais masculinos.
A cirurgia para remover o testículo afetado (orquiectomia) é muitas vezes necessária para tratar o câncer testicular. A remoção de um testículo saudável não compromete necessariamente a capacidade de ter filhos, pois o testículo restante geralmente é capaz de compensar a produção de espermatozoides.
No entanto, é importante destacar que a remoção de ambos os testículos resultaria em infertilidade definitiva. Além disso, muitos homens experimentam uma redução temporária ou mesmo permanente na qualidade e quantidade de espermatozoides após tratamentos como a quimioterapia.
Quais tratamentos mais prejudicam a fertilidade?
Os tratamentos oncológicos buscam impedir a proliferação das células cancerosas, as quais levam ao crescimento dos tumores. Por isso, a quimioterapia e a radioterapia interferem nos mecanismos de multiplicação celular.
No caso da quimioterapia, a atuação se dá sistematicamente. Isso significa que ela é distribuída via corrente sanguínea, atingindo o corpo todo — inclusive, os ovários, afetando a formação dos óvulos. A radioterapia, por sua vez, traz riscos quando direcionada à região pélvica.
Como preservar a fertilidade no tratamento oncológico?
A preservação da fertilidade antes de iniciar o tratamento contra o câncer pode se dar por meio de abordagens não cirúrgicas e cirúrgicas. Entre as primeiras, as quais vêm sendo utilizadas com grande êxito, destacam-se as criopreservações, incluindo:
- criopreservação de oócitos, por meio de hiperestimulação controlada do ovário e maturação dos óvulos in vitro;
- criopreservação de embriões, após a retirada de óvulos maduros e subsequente fertilização in vitro.
Já entre as abordagens cirúrgicas, dependendo das condições da paciente, pode-se realizar:
- a cirurgia ginecológica conservativa, realizada em mulheres com câncer em apenas um dos ovários;
- a transposição ovariana, por meio do afastamento dos ovários da área a ser tratada com radioterapia e posterior recolocação na posição pélvica central;
- a criopreservação do tecido ovariano, retirando parte (ou a totalidade) de um ovário, cortando-o em tiras para ser congelado rapidamente e, após o término do tratamento, transplantando-o na região pélvica.
Quando falamos de câncer e infertilidade, todos (homens e mulheres) em idade fértil deveriam ter seus prognósticos com relação à fertilidade discutidos antes do início do tratamento quimioterápico e/ou radioterápico. Preservar a fertilidade contribui, diretamente, para a qualidade de vida após a cura.
Em que momento a preservação da fertilidade deve ser abordada?
Levantamentos realizados nos Estados Unidos mostram que o risco de infertilidade é uma das maiores preocupações em pacientes com câncer. Por isso, a questão da preservação da fertilidade deve ser tratada logo após a escolha da terapêutica — independentemente do problema só se manifestar após o término do tratamento.
Dessa forma, os pacientes tomam decisões com todas as informações necessárias e podem fazer planos. Também é importante destacar que o tempo pode ser um fator crítico, uma vez que alguns tratamentos oncológicos precisam ser iniciados rapidamente.
Quando se trata da quimioterapia, a criopreservação (congelamento) é considerada prática padrão. Assim:
- em meninas pré-púberes (que ainda não atingiram a maturidade do sistema reprodutor),a criopreservação do tecido ovariano deveria ser considerada sempre que o risco de menopausa prematura for alto;
- quando já menstruam, costuma-se realizar a criopreservação dos óvulos ou, novamente, de parte do tecido ovariano;
- em mulheres com um parceiro, a prática mais comum é a criopreservação do embrião após o procedimento de fertilização in vitro.
Já em pacientes que vão se submeter à radioterapia na área do aparelho reprodutor, a abordagem preventiva se dá de maneira diferente. Nesses casos, uma possibilidade para a preservação da fertilidade é o deslocamento cirúrgico dos ovários para um local não irradiado (a chamada transposição ovariana).
Que especialista elabora a estratégia de prevenção à infertilidade feminina?
O tratamento oncológico é multidisciplinar. Portanto, ainda que a orientação sobre a importância de preservar a fertilidade seja dada à paciente pelo oncologista, a definição do melhor tratamento depende da avaliação de um especialista em reprodução humana.
Graças aos diagnósticos precoces e avanços nos tratamentos, as chances de cura de pacientes com câncer são cada vez maiores. Mas para lidar com o problema da infertilidade feminina e masculina, a rapidez na prevenção do problema também é fundamental.
Na prática, o procedimento indicado para preservar a capacidade reprodutiva deve começar o quanto antes, evitando, inclusive, atrasos no tratamento do tumor.
Se você ou alguém que você conhece está enfrentando o desafio do câncer e infertilidade, a Fecondare está aqui para oferecer suporte e orientação. Não hesite em entrar em contato conosco para obter informações adicionais e orientação personalizada sobre suas opções de preservação da fertilidade.
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