O abortamento de repetição (AR) é uma condição desafiadora tanto para os casais quanto para os profissionais de saúde. Trata-se da ocorrência de duas ou mais perdas gestacionais consecutivas, e pode afetar cerca de 1 a 5% das mulheres em idade fértil, segundo a American Society for Reproductive Medicine (ASRM).
É comum que até 50% dos casos fiquem sem diagnóstico, ou seja, não se ache uma “doença” que possa ser responsabilizada. Isso acarreta em um desalento para a paciente que não compreende a situação ou não a aceita, já que não haveria motivo explícito. Também para o médico há frustração, pois ele fica sem saber como prosseguir com o tratamento.
Portanto, ter conhecimento sobre o assunto é essencial para entendê-lo. Iremos explicar as causas do abortamento de repetição, como é feito o diagnóstico e quais são as possibilidades de prevenção e tratamento. Confira a seguir.
Quando não há motivo para o abortamento de repetição
Quando não é possível achar uma razão para os abortos de repetição, alguns aspectos devem ser observados. Eles são divididos em dois grupos:
Abortos por acaso
São perdas gestacionais causadas por eventos aleatórios, sem qualquer alteração biológica identificável. Muitas vezes, fazem parte da variabilidade natural da reprodução humana.
A grande maioria (aproximadamente 60%) das implantações do embrião no útero, que poderiam resultar em uma gestação normal, é perdida espontaneamente e a mulher nem fica sabendo que esteve grávida.
Abortamento de repetição por causas não identificadas
São casos em que há alguma condição patológica não detectada nos exames atuais, mas que pode estar relacionada à perda gestacional.
Essa classificação ajuda os profissionais de saúde a traçarem uma linha de raciocínio clínica, orientando o suporte emocional e o plano terapêutico do casal.
Fatores a considerar no diagnóstico
Embora muitas perdas permaneçam sem causa definida, existem parâmetros que ajudam na investigação e na tomada de decisão médica nas situações de abortamento de repetição:
1. Estágio da gestação em que ocorre o aborto
Abortos clinicamente evidentes (diagnosticados por exame físico ou ultrassom, após a mulher saber que estava grávida) aumentam a chance de existir um fator patológico envolvido.
2. Idade da mulher
Mulheres mais jovens têm maior chance de que os abortos estejam relacionados a alguma disfunção, ainda que sutil. Já com o avanço da idade materna, aumenta a incidência de anomalias cromossômicas nos embriões.
3. Número de abortos anteriores
Quanto maior o número de perdas gestacionais, menor a chance de serem eventos casuais. A partir do segundo ou terceiro aborto consecutivo, recomenda-se investigação especializada.
4. Abortamento de repetição e cariótipo do embrião
O estudo genético (cariótipo) do embrião abortado pode ser um fator decisivo. Caso o cariótipo esteja normal, aumenta a suspeita de que outra causa clínica esteja envolvida.
Possíveis causas do abortamento de repetição
Mesmo quando há dificuldades para identificar a origem dos casos de abortamento de repetição, vale conhecer os principais fatores que podem estar por trás desse problema.
Alterações genéticas
Translocações cromossômicas (recombinações) nos pais podem ser transmitidas ao embrião, levando à formação de material genético incompatível com a vida.
Problemas anatômicos uterinos
Malformações uterinas (como septo uterino),miomas submucosos ou sinéquias podem dificultar a implantação e o desenvolvimento embrionário.
Trombofilias
Distúrbios de coagulação podem provocar formação de microtrombos na placenta, prejudicando o desenvolvimento do embrião.
Doenças endócrinas
Diabetes mal controlada, síndrome dos ovários policísticos (SOP), alterações na tireoide e resistência à insulina também interferem negativamente na gravidez.
Fatores imunológicos
Algumas condições imunológicas, como a síndrome do anticorpo antifosfolípide, podem levar ao aborto recorrente.
Estilo de vida e fatores ambientais
Tabagismo, obesidade, estresse crônico, consumo de álcool e exposição a toxinas ambientais são outros aspectos relacionados à perda gestacional.
É possível prevenir o abortamento de repetição?
Em algumas situações, sim. Quando uma causa é identificada, o tratamento pode ser direcionado, como correção de alterações hormonais, controle de doenças autoimunes ou de coagulação, além de mudanças nos hábitos de vida.
Não podemos nos esquecer ainda da possibilidade de realizar fertilização in vitro com biópsia embrionária, em casos de alterações genéticas;
Já quando não há causa aparente, o acompanhamento por um especialista em reprodução humana é o diferencial, para que se possa obter suporte emocional, orientação nutricional e avaliação complementar.

Sinais de alerta de aborto espontâneo
É fundamental que gestantes conheçam os sinais que podem indicar um possível aborto espontâneo. Ao perceber qualquer um desses sintomas, é importante buscar atendimento médico imediato:
- sangramento vaginal (de leve a intenso),com ou sem coágulos;
- dor abdominal ou cólicas semelhantes ou mais fortes que as de uma menstruação;
- dor nas costas persistente, especialmente na região lombar;
- eliminação de tecido ou líquidos pela vagina;
- redução súbita dos sintomas da gravidez, como desaparecimento abrupto dos enjoos ou sensibilidade nos seios.
Nem sempre esses sinais indicam que um aborto está em curso, mas todos devem ser avaliados por um profissional para garantir a segurança da gestante e do bebê.
Apoio e tratamento especializado fazem a diferença em casos de abortamento de repetição
O abortamento de repetição exige sensibilidade, empatia e conhecimento técnico. Na Fecondare, entendemos que cada casal tem sua história e suas particularidades.
Nosso objetivo é oferecer uma abordagem individualizada, com os mais atuais recursos da medicina reprodutiva para aumentar as chances de uma gestação saudável.
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