Publicado em 10/04/2022

Cuidados com o coração na gravidez: tudo o que você precisa saber

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Durante a gestação, o organismo da mulher passa por uma série de ajustes fisiológicos. Por isso, a saúde do coração na gravidez exige cuidados especiais — principalmente, quando há alguma doença cardíaca. Aliás, você sabia que as cardiopatias são consideradas as causas não obstétricas mais comuns de mortalidade materna? E que a hipertensão arterial ocorre em cerca de 10% das gestantes?

Para orientar quem pretende engravidar, elaboramos este guia. Continue a leitura e veja tudo o que você precisa saber a respeito!

O que muda no coração durante a gravidez?

Algumas mulheres sentem o coração acelerado na gravidez, mesmo quando estão em repouso. Outras relatam cansaço, dor no peito e falta de ar. Esses e outros sintomas podem ser sinais de problemas e precisam ser investigados.

Isso porque, as alterações cardiovasculares e sistêmicas típicas do período gestacional podem levar à descompensação cardiovascular. Com isso, revelam-se doenças cardíacas, até então, não diagnosticadas. É o caso, por exemplo, das insuficiências e arritmias cardíacas.

Se não tratadas, essas patologias podem se agravar e colocar a vida da gestante em perigo. Já para o bebê, os principais riscos são:

  • malformações (restrição no crescimento);
  • doenças do coração (defeitos congênitos, parecidos com os da mãe);
  • trabalho de parto prematuro;
  • morbidade ou mortalidade.

Quais são as causas das cardiopatias em gestantes?

Existem diversas causas para o surgimento das doenças do coração na gravidez. As mais frequentes são:

  • reumatismos (nos ossos, articulações, cartilagens, músculos, tendões e ligamentos);
  • hipertensão (pressão arterial elevada, afetando as artérias dos pulmões e do coração);
  • fibrilação atrial (frequência cardíaca irregular, geralmente acelerada, que provoca má circulação sanguínea);
  • antecedentes de tromboembolismo (coágulo sanguíneo que bloqueia uma ou mais artérias pulmonares);
  • endocardite infecciosa (infecção causada por fungos ou bactérias no revestimento interno do coração).

Como é a avaliação da gestante cardiopata?

avaliação clínica é feita com o questionamento acerca do histórico pessoal e familiar para doenças cardíacas, análise dos sintomas descritos e exames físicos. Além disso, solicitam-se exames laboratoriais, eletrocardiogramas (ECG) e ecocardiogramas. Outros exames também podem ser pedidos, conforme a necessidade individual.

A gestante que, sabidamente, é portadora de alguma cardiopatia congênita deve fazer o ecocardiograma fetal por volta da 20ª semana de gravidez. Recomenda-se, também, realizar o ultrassom com doppler (dopplerfluxometria obstétrica),o qual permite analisar o fluxo sanguíneo do bebê.

Como prevenir a ocorrência desses problemas?

Toda mulher quando decide engravidar deve fazer um check-up cardiológico completo antes da concepção para, entre outras coisas, conhecer o risco materno-fetal. Dessa maneira, se houver alguma doença do coração, é possível controlá-la com antecedência.

Outro ponto fundamental é o acompanhamento multidisciplinar durante a gestação, realizado pelo ginecologista obstetra e pelo cardiologista. Aliás, se a saúde do coração estiver em dia, as consultas do pré-natal ocorrem normalmente, sendo:

  • mensais, do primeiro ao sexto mês;
  • quizenais, no sétimo e oitavo mês;
  • semanais, ao entrar no nono mês.

Quais hábitos beneficiam o coração na gravidez?

Como as gestantes podem se sentir mais cansadas do que o habitual, o descanso é essencial. Ao mesmo tempo, deve-se evitar o estresse, o uso de substâncias que aumentam o ritmo cardíaco (cafeína) e o ganho de peso em excesso.

Nesse ponto, entram em cena a dupla alimentação saudável e atividades físicasFazer exercícios de baixo impacto, vale reforçar, não apenas é permitido, como é altamente recomendável.

Como tratar doenças do coração na gravidez?

Durante a gravidez, algumas gestantes terão a necessidade de usar  anticoagulantes injetáveis. Os orais são contraindicados, por oferecerem riscos à saúde do bebê.

Já quando a cardiopatia é identificada somente na gravidez, os tratamentos visam salvar a vida de ambos, mãe e bebê. Algumas mulheres, principalmente, quando estão entre a 16ª e a 24ª semana, recebem indicação para cirurgia. Hoje em dia, esses procedimentos são minimamente invasivos. Um exemplo é a introdução de cateteres pela veia femural, os quais são guiados, por ultrassom, até o coração.

Em relação ao nascimento, o parto vaginal é o mais indicado, pois a perda de sangue é menor e mais lenta do que na cesárea. Mas nesse caso, as grávidas cardiopatas devem receber analgesia (geralmente, anestesia peridural) conforme a necessidade individual, pois a dor aumenta o esforço cardíaco.

Existem cardiopatias que contraindicam a gestação?

Sim. Ainda que a maioria das doenças cardiovasculares permita ter uma gestação saudável e bem sucedida, existem contraindicações. Uma vez que a gravidez exige que o coração trabalhe intensamente, ela é desaconselhada para mulheres com insuficiência cardíaca moderada ou grave.

Além disso, outros tipos de cardiopatias preexistentes fazem parte dessa lista. São elas:

  • hipertensão pulmonar grave;
  • coartação da aorta e alguns outros defeitos congênitos graves do coração;
  • estenoses (estreitamento da abertura) da válvula aórtica ou da válvula mitral graves;
  • válvula aórtica com dois, em vez de três, folhetos e uma aorta aumentada;
  • síndrome de Marfan (distúrbio hereditário, que afeta os tecidos conjuntivos);
  • cardiomiopatia (um tipo de lesão cardíaca) ocorrida em uma gravidez anterior.

Nesses quadros, dependendo da gravidade da doença, podem ocorrer complicações severas. É o caso de edemas pulmonares, acidentes vasculares cerebrais (AVC),entre outras.

O que é pré-eclâmpsia e eclâmpsia?

pré-eclâmpsia é o diagnóstico de hipertensão arterial induzido pela gravidez que pode se estabelecer após a vigésima semana de gravidez, podendo ocorrer sobreposto a um quadro de  hipertensão crônica. Estima-se que ela ocorra entre 3% a 7% das gestantes.

Já a eclampsia gestacional é um tipo de convulsão súbita que pode ocorrer em mulheres com esse quadro. Ela ocorre em menos de 1% das mulheres com pré-eclâmpsia grave. Se não for tratada rapidamente, pode ser fatal.

Causas

As causas exatas da pré-eclâmpsia não são conhecidas. O que se sabe é que o problema costuma ocorrer com mais frequência em:

  • primeiras gestações;
  • gestações gemelares (com dois ou mais fetos);
  • quem teve o problema em gestações anteriores;
  • quem têm histórico familiar para a doença;
  • obesas ou com sobrepeso;
  • diabéticas ou com diabetes gestacional;
  • mulheres com comorbidades, como hipertensão arterial ou doença vascular;
  • mulheres com distúrbios de coagulação, como a síndrome do anticorpo anti-fosfolipídeo ( SAAF);
  • grávidas muito jovens, com menos de 17 anos de idade, ou que têm mais de 35 anos.

Sintomas

A pré-eclâmpsia pode ser assintomática ou provocar edemas (retenção de líquidos),levando ao inchaço dos dedos, rosto, pescoço e ao redor dos olhos. O ganho de peso excessivo também é um indicativo, assim como o aparecimento de petéquias (bolinhas vermelhas) na pele.

Em quadros graves, os sintomas incluem pressão alta, dores de cabeça, visão distorcida, dor na região superior direita do abdômen, dificuldade para respirar, entre outros. O funcionamento de órgãos vitais, como coração, pulmões, fígado e rins, também pode ser prejudicado.

Consequências

A pré-eclâmpsia pode provocar o descolamento da placenta, assim como o parto prematuro. Ela também aumenta o risco de intercorrências no pós-parto. Se não tratada, a mulher pode ter episódios de eclampsia (convulsões) e uma série de danos aos órgãos.

Diagnóstico

O diagnóstico da pré-eclâmpsia é feito com a aferição da pressão arterial acompanhada do exames de urina e sangue, para verificar o aumento da perda proteica na urina, função dos rins, função hepática, etc.

O problema pode surgir entre a 20ª semana de gravidez e, geralmente, a primeira semana pós-parto. No entanto, há casos em que o risco permanece até seis semanas após o nascimento do bebê.

Tratamento

Dependendo da gravidade da pré-eclâmpsia, o tratamento pode exigir:

  • repouso (em casa ou internação hospitalar);
  • evitar situações de estresse;
  • ingestão de medicamentos para baixar a pressão arterial;
  • uso de suplementos com dieta hiperproteica
  • visitas semanais ao médico responsável.
  • Internação hospitalar até o nascimento do bebê

Enquanto isso, o bebê é acompanhado por meio de exames realizados frequentemente. É o caso da cardiotocografia, que mostra sua frequência cardíaca, e de exames de sangue.

Por vezes, pode ser preciso adiantar o parto, pois ele é considerado o melhor tratamento. Mas, para isso, o obstetra “pesa” o risco da prematuridade em relação aos riscos dessa condição.

Assim, muitas vezes a gestante apenas recebe medicamentos para controlar a pressão arterial (anti-hipertensivos) e, se preciso, as convulsões. O parto é adiado para assim que possível, de preferência, a partir de 37 semanas.

Caso desejem engravidar, novamente, no futuro, essas mulheres precisarão de um acompanhamento cardio-obstétrico constante. Além dos cuidados tomados na primeira gestação, outros podem ser acrescentados.

Existe risco de a gestante infartar?

Sim. A gestação, por si só, é um fator de risco para o infarto agudo do miocárdio — o que é grave para a mãe e o feto. Por isso e por tudo o que já foi explicado, os cuidados com o coração na gravidez precisam ser levados a sério.

Segundo o Departamento de Cardiologia da Mulher (DCM),da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC),a gestação, entre outras alterações, modifica as paredes dos vasos sanguíneos. Isso torna as artérias mais frágeis, aumentando o risco de infartar.

Vale destacar que mulheres que engravidam mais tardiamente, por volta dos 40 anos, são ainda mais propensas a apresentar esse tipo de ocorrência. Isso porque, elas costumam ter mais placas de gorduras nas artérias coronárias. Sendo assim, em caso de dor no coração durante a gravidez, procure atendimento médico imediatamente.

Assim, além do aconselhamento pré-concepcional, adotar uma conduta pré-natal conjunta (obstétrica e cardiológica) é bastante indicado para cuidar do coração na gravidez e no puerpério. Na Clínica Fecondare, orientamos os tratamentos multidisciplinares conduzidos por equipes com o devido preparo e experiência para lidar com gestações tanto de baixo como de alto risco.

Caso ainda haja alguma dúvida sobre o assunto, entre em contato. Estamos à disposição!

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Publicado por: Dra. Ana Lúcia Bertini Zarth - Ginecologista - CRM-SC 8534 e RQE 10334
Formada na Faculdade de Medicina da PUC – RS em 1993, Residência Médica em Ginecologia e Obstetrícia, Título de Especialista em Ginecologia e Obstetrícia, pela Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) em 1997.

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