O HPV causa infertilidade tanto na mulher como no homem. Nelas, ainda que seja mais raro, o problema pode ocorrer quando a infecção do aparelho reprodutivo afeta a anatomia e a fisiologia dos órgãos sexuais. Já no caso deles, a infertilidade ocorre quando há contaminação das células germinativas, levando à alterações na função testicular.
Neste artigo, mostramos a relação entre esse tipo de doença sexualmente transmissível (DST) e infertilidade. Para entender mais, continue a leitura.
O que é o HPV?
O Papilomavírus humano é um DNA-vírus que infecta a pele e os tecidos das mucosas. Mais conhecido como HPV, é considerado DST mais transmissível no mundo.
Segundo a Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA),existem mais de 100 tipos de HPV. Desses, 20 são capazes de infectar o trato genital feminino e masculino.
Quais são os principais sintomas?
Algumas pessoas podem apresentar verrugas genitais, popularmente chamadas de cristas de galo. Na maioria dos casos, porém, as infecções pelo HPV são assintomáticas ou não aparentes.
Isso faz com que, muitas vezes, a infecção só seja descoberta em meio à investigação de outras doenças. Pacientes diagnosticadas com câncer de colo do útero, por exemplo, sempre têm HPV. No entanto, isso não significa que uma mulher com HPV irá desenvolver a doença.
Qual é a relação entre HPV e infertilidade?
A incidência de HPV tem aumentado de forma significativa na população. Um estudo publicado no portal Fertility and Sterility mostrou que presença dessa patologia em casais inférteis é de cerca de 10%.
Entre as mulheres, esse tipo de DST gera preocupação, principalmente, devido à correlação com tumores de colo de útero. Na esfera masculina, o receio é de que a infecção (que geralmente provoca lesões verrucosas na pele e, eventualmente, na uretra) possa provocar a contaminação do sêmen.
Como o HPV causa infertilidade?
Com o intuito de responder a essa questão, um estudo realizado pela Universidade de Padova, na Itália, evidenciou a presença de infecção seminal por HPV não só nos homens que apresentavam verrugas genitais. Nos assintomáticos, cujas esposas eram portadoras de HPV, o índice de contaminação foi superior a 40%.
No espermatozoide, o vírus costuma ser identificado na zona equatorial da superfície da cabeça. Já a presença do HPV dentro do seu núcleo ainda é incerta.
A infecção seminal pelo HPV pode comprometer a fertilidade do casal. Isso ocorre porque as células espermáticas que transportam os vírus promovem sua dispersão e penetração na mucosa do aparelho genital feminino.
Quais são os efeitos do HPV nas funções do esperma?
A infecção pelo HPV prejudica a motilidade dos espermatozoides. Na prática, ocorre uma considerável redução da velocidade e da amplitude lateral do batimento ciliar.
Os subtipos do vírus que levam a um maior impacto no desempenho do espermatozoide são o 16 e o 18. Nesses casos, a redução da qualidade seminal se dá em 33% e 67%, respectivamente.
Um estudo feito na Faculdade de Medicina e Tecnologia de Taipei, em Taiwan, mostrou que a incidência de astenozoospermia (redução ou ausência da mobilidade dos espermatozoides) foi significativamente maior em pacientes com HPV do que naqueles sem a infecção. O resultado comprova que a astenozoospermia pode estar associada à presença de certos genes do Papilomavírus humano nas células espermáticas.
Por outro lado, além da motilidade, a infecção por HPV parece não ter efeitos sobre os outros parâmetros de esperma. Pesquisadores do Centre for Male Gamete of Cryopreservation, da Universidade de Padova não encontraram nenhuma diferença em termos de volume de sêmen, concentração de esperma, contagem de esperma e morfologia normal entre infectados e não infectados.
Quais são os efeitos do HPV no aparelho reprodutor feminino?
Ainda não se sabe, exatamente, os efeitos da infecção por HPV na infertilidade feminina. Alguns especialistas sugerem que a presença da infecção está ligada a menores taxas de concepção após os procedimentos de reprodução assistida.
Além disso, algumas intercorrências durante a gestação podem estar diretamente associadas à infecção por HPV. Por exemplo: maior risco de abortamento ou prematuridade, bem como de o bebê nascer com papiloma, um problema na laringe.
Por outro lado, um estudo realizado na University Hospital of Herlev and Gentofte, na Dinamarca, constatou que a infecção pelo vírus não tem impactos na fertilidade feminina. Em todo caso, os médicos recomendam que mulheres a partir dos 25 anos de idade façam o exame citopatológico periodicamente, para investigar a presença de infecção por HPV.
Existe risco de contaminação na reprodução assistida?
A presença de HPV em amostras de sêmen congeladas, contidas no banco de esperma da Universidade de Padova, foi de 6,1%. Como ainda não está claro se a contaminação pode prejudicar as técnicas de reprodução assistida, o respectivo estudo propõe o aprofundamento das pesquisas.
O intuito é entender se a triagem para HPV deve ser feita em todas as amostras de sêmen antes de realizar os procedimentos de fertilização in vitro, como a injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI). Essa técnica é indicada para homens diagnosticados com poucos espermatozoides ou com alterações na qualidade do esperma.
Nas clínicas de reprodução assistida, em certos casos, recomenda-se que o esperma seja testado para averiguar a infecção por HPV. Esse é o protocolo em pacientes com histórico de câncer testicular.
Como prevenir a infecção por HPV?
O primeiro passo é evitar a contaminação. Para isso, deve-se usar preservativos e, quando indicado, tomar a vacina contra o HPV. O Ministério da Saúde (MS) assegura a vacinação em pré-adolescentes (antes de iniciarem a vida sexual),mas os demais grupos podem se vacinar em serviços privados, quando indicado pelos seus médicos.
Em caso de suspeita é importante investigar a presença do vírus. Além do diagnóstico clínico, por meio da visualização de verrugas na vulva, vagina, colo ou pênis, existem exames específicos para casos assintomáticos ou com lesões não visíveis.
Em mulheres, o exame realizado é a colposcopia; em homens, a peniscopia. Também há exames complementares, utilizados para identificar os subtipos virais. Por exemplo: o teste de hibridização molecular, o qual analisa o tecido lesionado.
Sabendo que o HPV causa infertilidade, o mais importante é se cuidar e prevenir a infecção. Caso suspeite de contaminação, o diagnóstico deve ser confirmado, por meio de exames clínicos e laboratoriais. O tratamento individualizado, de acordo com as especificidades de cada pessoa, é a melhor maneira de evitar a evolução do problema.
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Artigo desenvolvido por Alberto Ambrogini (CRM–SC 9665 e CRM-SP 85154),andrologista da Clínica Fecondare.