Com a evolução do conhecimento e da tecnologia médica, muitas pessoas vencem o câncer mesmo que diagnosticadas ainda na infância ou na adolescência, conseguindo prosseguir com suas vidas normalmente. Sabe-se que a quimioterapia e a radioterapia são tratamentos que afetam de diversas formas o organismo – na tentativa de agredir o tecido canceroso – o que acaba trazendo alguns efeitos colaterais negativos em diferentes sistemas, inclusive o reprodutivo, de modo que é comum a fertilidade desses jovens estar comprometida.
Atualmente há um grande número de adultos com história prévia de tratamento contra o câncer (na infância) e que durante o progresso de suas vidas se depararam com a dificuldade de conseguir engravidar. Inclusive as pacientes femininas tendem a entrar na menopausa numa média de idade menor do que o restante das mulheres – no caso daquelas submetidas a esse tipo de tratamento essa média é de 44 anos.
Pacientes jovens que irão se submeter a tratamento contra o câncer idealmente deveriam consultar especialistas em reprodução humana para saber quais as opções disponíveis para preservar de algum modo a sua fertilidade, de forma que no futuro possam constituir uma família com ajuda da reprodução assistida ou naturalmente. Mas para esses jovens e suas famílias, que se encontram em um período delicado de suas vidas, lutando pela sua sobrevivência, é muito difícil preocupar-se com questões como a fertilidade.
Há algumas opções de preservação da capacidade reprodutiva que estão em estudo, como modificação da intensidade da quimioterapia ou da radioterapia, mudança de lugar dos ovários durante o tratamento – para que não recebam tanta irradiação – indução temporária de menopausa na mulher jovem, congelação de seus óvulos, ou do tecido do próprio ovário ou testículo, congelação de espermatozóides etc. Essas últimas técnicas têm a intenção de recuperar os tecidos e as células mencionados para serem usados na reprodução assistida no futuro. Mas diversos aspectos emocionais e éticos rodeiam esse tipo de decisão, uma vez que a maioria das opções disponíveis incluem a participação em pesquisas e os tratamentos ainda não foram efetivamente validados.
Existem ainda muitas barreiras na comunicação entre os profissionais de saúde e os pacientes. Para ambos, por motivos pessoais e culturais, pode ser difícil lidar com o tema da fertilidade em pacientes jovens e muitas vezes o médico carece do conhecimento necessário para transmiti-lo a seu paciente. Mas é de extrema importância identificar os jovens que tem a intenção de ter filhos no futuro de modo a lhes prover as informações disponíveis.
Assim, sobreviver ao câncer e a seu tratamento tem repercussões sobre a saúde, e muitos desses pacientes tornam-se adultos inférteis, que procurarão na medicina da reprodução o auxílio que necessitam para superar essa dificuldade. E, conforme o tempo passa, a ciência caminha para prover o apoio e os recursos que esses pacientes merecem.