extremamente difícil se colocar no lugar de uma mulher que sofreu um aborto. A sensação de perda, às vezes de fracasso, o vazio e a decepção de um sonho que não se realiza é algo que podemos somente imaginar. Para essas mulheres, o apoio de amigos e familiares é essencial para que supere esse evento e possa seguir em frente.
É comum que recorra ao apoio psicológico de profissionais, que lhe ajudam a desenvolver ferramentas para lidar com a frustração e a decepção que possa estar sentindo. E essa reação da mulher, ou o efeito que o aborto tem sobre ela, é tão esperada que constantemente são realizados estudos com pacientes que tiveram essa história para que profissionais de saúde possam desenvolver suas próprias ferramentas para ajudá-las a amenizar seu sofrimento ou, de alguma, forma preveni-lo.
Sabendo que o sofrimento se segue naturalmente a esse acontecimento, uma dúvida ficou em meio a esses estudos: será que mulheres que sofrem mais também abortam mais? Pesquisadores holandeses tentaram responder a essa pergunta.
Foi observado que, comparado com mulheres que não tinham passado por isso, aquelas que abortaram apresentavam maiores chances de terem tido problemas psiquiátricos no passado.*
Por mais curioso que isso possa parecer, uma explicação sugerida foi a de que mulheres que convivem com o sofrimento mental podem se expor a situações de risco com maior frequência e essa exposição poderia levá-las a uma gravidez “não intencional”. É mais comum também que elas não aceitem levar a gravidez adiante, sendo ou não intencional, por sentirem-se muitas vezes incapazes ou não merecedoras da maternidade, já que a angústia é com frequência acompanhada de baixa autoestima.
O sofrimento mental é muito comum e muito pouco diagnosticado, isto é, muitas vezes passa despercebido pelas pessoas com quem se convive e até pelos profissionais de saúde. É preciso estar atento a isso e oferecer ferramentas para a paciente que possam lhe trazer autoconfiança e segurança para tomar decisões no dia a dia.
No entanto, ressalta Dr. Jean Louis Maillard, ginecologista da Fecondare (CRM-SC 9987 , CRM-RS 13107 e RQE 5605),que nada neste sentido está comprovado e os estudos não concluem de forma evidente que as que tenham maior sofrimento abortem mais. Pode ser que elas tenham mais estresse com maior descarga adrenérgica e essa está muito bem relacionada com aumento da atividade do musculo uterino.
*van Ditzhuijzen J, et al.,
Psychiatric history of women who have had an abortion, Journal of Psychiatric
Research (2013),https://dx.doi.org/10.1016/j.jpsychires.2013.07.024
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