Publicado em 05/04/2020 - Atualizado 14/08/2020

Doação de óvulo: o meu filho terá duas mães?

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A doação de óvulo é uma ótima opção para mulheres que estejam impossibilitadas de engravidar. Graças à evolução da medicina, essas pacientes podem se beneficiar do auxílio das técnicas de reprodução assistida, como, por exemplo, a fertilizaçãoin vitro (FIV), caracterizada por um processo que permite a união de um óvulo e de um espermatozoide fora do corpo da mulher. Por isso, em alguns casos de infertilidade feminina, para que a FIV aconteça, é preciso que haja uma outra mulher disposta a doar o seu óvulo.

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Quando recorrer à doação de óvulo

Algumas são as razões para a necessidade do envolvimento de uma terceira pessoa na geração de um filho. Por isso, nas respectivas situações, a procura por uma doadora pode se tornar uma realidade:

  • sofrer de insuficiência ovariana primária: quando a infertilidade é causada por um ovário que não funciona corretamente;
  • possuir óvulos de má qualidade;
  • necessidade de evitar a perpetuação de certas doenças genéticas.

Vimos que um dos tratamentos de sucesso para a infertilidade feminina é a utilização de um óvulo doado. Dessa forma, dentro de um laboratório, este óvulo deverá se unir ao espermatozóide do futuro pai e o embrião resultante deverá ser inserido no corpo da mulher que, até então, não poderia engravidar. 

Como escolher a doadora? 

É importante ressaltar que há muitas questões envolvidas no processo de seleção da mulher que irá fornecer o seu material genético ao casal. Assim, a preferência, normalmente, se dará por mulheres mais jovens e com fertilidade comprovada, ou seja, que já tenham filhos.

Dessa forma, é válido relatar que, para a doação ser efetivada, é necessário haver um preparo especial, que deve ser tanto por parte da doadora, quanto da receptora. Por isso, ambas precisam estar com seus ciclos menstruais regulares e sincronizados a fim de potencializar todo o processo e aumentar as chances de garantir a gravidez. Geralmente, isso será possível por meio da injeção de hormônios estimulantes da ovulação, além de haver um acompanhamento periódico por meio de exames de sangue e de imagem. 

Existe risco na gravidez proveniente da doação de óvulo?

A gravidez proveniente da doação de óvulos, assim como o respectivo preparo, podem apresentar certas complicações e riscos. Isso pode se dar tanto pelos problemas possíveis de toda gravidez, como: hipertensão, parto prematuro e problemas com a placenta, quanto os referentes por meio dos procedimentos aos quais as mulheres envolvidas se submetem. Assim, a doadora do óvulo também estará sujeita a sofrer:  hiperestimulação ovariana; sangramento intra-abdominal; gravidez ectópica ou gravidez fora do útero e; gestação de múltiplos.

No entanto, de uma maneira geral, as taxas de sucesso apresentadas são bastante altas, sendo capazes de satisfazer o objetivo das mulheres envolvidas. É importante reforçar que não é uma tarefa simples admitir a própria infertilidade, ainda mais quando esta é seguida da necessidade de encontrar uma doadora para proporcionar a gravidez.Todavia, quando as prioridades são colocadas à frente, como o desejo de constituir uma família, alguns aspectos envolvidos na realização deste sonho acabam se tornando irrelevantes, e quando tudo se concretiza, todo o sacrifício parecerá ter valido a pena. 

A doadora deve ser anônima ou conhecida?

A doação de óvulo para o caso de infertilidade feminina é um processo importante de ser acompanhado juntamente com a saúde psicológica dos pais e envolvidos no procedimento. Em uma situação tão pessoal e sensível quanto esta, é de se esperar que as mulheres envolvidas, assim como os seus maridos, passem por muitos questionamentos.

Uma pesquisa resolveu questionar algumas mulheres que se submeteram a  esse processo, discutindo os diversos dilemas e preocupações que circundam a mente e saúde psicológica das mesmas. Segundo o estudo, ficou claro que as leis envolvidas se diferem pelos países, mas os desejos e anseios humanos, nem tanto. Por isso, um dos dilemas mais prevalentes é a dúvida entre receber uma doação que seja anônima ou optar por alguém conhecido.

Um dos medos por parte das futuras mães, em relação à doação conhecida é de que a doadora possa, em algum momento de sua vida, rever a decisão e querer fazer parte da vida da criança. Obviamente, isso faria com que as mãe se sentissem ameaçadas, vulneráveis e inseguras. Além disso, a existência de uma mulher real e conhecida poderia ser uma lembrança constante de sua própria infertilidade, vista por elas como uma incapacidade, pela qual se culpam.

Outra insegurança frequente das mães inférteis é o fato da doação anônima não possibilitar o conhecimento das características físicas e genéticas da doadora, tanto no que compete a estética por si só, quanto por questões que envolvem sua saúde geral e características emocionais e comportamentais. Dessa forma, a mesma pesquisa concluiu que a preferência recaiu sobre o processo anônimo, uma vez que o medo da interferência da doadora sobrepunha as preocupações com as características biológicas e psicológicas do bebê.

E após o nascimento?

Muitas vezes, as aflições diminuem no nascimento, enquanto em outras vezes novas aflições aparecem, principalmente quando se começa a questionar sobre a futura personalidade da criança. Dessa forma, a maneira de lidar com isso deverá variar de mulher para mulher, ou de casal para casal. Da mesma maneira, há a dúvida em refletir sobre contar ou não para a criança a maneira como ela foi gerada. Por isso, ainda segundo as participantes da respectiva pesquisa, concluiu-se que a informação destinada à explicação de como a criança veio ao mundo, juntamente com a situação da doação do óvulo, se torna indispensável nesse contexto.

Outra questão bastante argumentada é o desejo da família de dar um irmão à criança gerada. Esse é um item delicado, já que principalmente pela falta de oferta, isso se torna uma situação bastante rara, o que pode causar mais angústia e frustração para os casais que sentem essa necessidade.

Uma experiência singular

De uma maneira geral, os estudos mostram como a experiência de doar e de receber mudam a vida das pessoas envolvidas, conforme as etapas dos processos vão se concretizando. Dessa forma, o desejo de ter um bebê e o nascimento em si mudam completamente os casais, desde a forma de pensar até à necessidade de traz novos questionamentos e emoções. Por isso, as percepções trazidas pelo estudo podem auxiliar no aconselhamento anterior ao tratamento, garantindo a importância do apoio e auxílio do médico especialista.

De acordo com o Dr. Jean Louis Maillard (CRM-SC 9987),médico ginecologista da Clínica Fecondare, no caso do Brasil não existe a possibilidade de que a doadora tenha grau de parentesco, o que facilita a equação do contexto. 

Assim, as doações compartilhadas sempre serão anônimas e, de forma alguma, os casais devem ter a chance de se encontrarem durante todo o processo. É importante ressaltar que na Espanha e nos EUA, onde há a possibilidade de venda de óvulos, o processo também é feito de forma anônima.

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Publicado por: Dr. Marcelo Costa Ferreira - Ginecologista - CRM/SC 7223 e RQE 2935
Formado em Medicina pela FURB, Residência Médica em Ginecologia e Obstetrícia, Especialização em Reprodução Humana no Centro de Referência da  Saúde da Mulher em São Paulo e Especialização em Reprodução Assistida

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