Um artigo publicado na revista Human Reproduction neste ano revelou o resultado de uma pesquisa sueca realizada com 111 casais – que tiveram os seus filhos a partir da doação de óvulo ou espermatozoide – sobre contar ou não a eles a maneira como foram concebidos. De todos os casais entrevistados, a grande maioria já havia revelado ao filho sua origem, uma parte pretendia contar e a menor parte não tinha a intenção de revelar a verdade.
Contar para o filho, se assim o casal desejar, deve ser um processo, e não um evento único, que explica como a família foi formada. Na Suécia, assim como nos Estados Unidos, os pais são aconselhados a revelar a verdade à criança desde cedo. Essa conduta foi adotada a partir de pesquisas que mostraram que as crianças não são prejudicadas com a informação e que elas inclusive se beneficiam de um diálogo honesto com os pais. E a tendência é a de que quanto mais nova a criança, melhor ela absorve essa informação, ficando os filhos adolescentes e adultos mais confusos e tendo mais dificuldade de lidar com a notícia.
Dos casais que contaram, a maioria iniciou o processo antes dos dois anos de idade; de forma natural, contaram que os pais receberam uma sementinha de uma mulher ou de um homem, no hospital, para que eles pudessem ter um filho e que isso é comum de acontecer. Os que ainda planejavam contar, estavam esperando a criança ter pelo menos seis anos, quando acreditavam que ela tomaria iniciativa com as perguntas, dada a curiosidade inerente à faixa etária. Muitos dos casais disseram que gostariam de ter acesso a livros infantis que abordassem esse tema – os auxiliando por meio de histórias lidas para as crianças – ou livros para adultos que fornecessem estratégias de como proceder nessa situação, como também gostariam de saber as experiências de outros casais que passaram por isso e aprender com eles.
A maioria dos pais fala de alívio ao contar a verdade e não se arrepende. Eles acreditam que a criança simplesmente tem o direito de saber. Os que não contam, assim o fazem por acharem desnecessário e também temerem a rejeição da criança. Acontece, algumas vezes, de ambos os parceiros não compartilharem do mesmo desejo de contar ou não para a criança, ou para outras pessoas, e isso muitas vezes reflete uma insatisfação dentro do próprio relacionamento.
Contar ou não para outras pessoas é outra questão a que se deparam, visto que gostariam de dividir com amigos e familiares a verdade, mas, muitas vezes, acham que a criança deveria ser a a primeira a saber. Mas as pesquisas mostram que, quanto mais se demora para contar para o filho, mais difícil vai se tornando o processo, e às vezes o “momento certo” que estavam esperando nunca aparece. Esperar até a adolescência pode expor o filho ao risco de saber a verdade por outra pessoa, ou trazer desconfiança quando, no período de escola, começam a estudar genética e biologia, e aparecem perguntas difíceis de responder sem a verdade.
É muito importante que profissionais especializados estejam presentes para uma assistência completa durante o tratamento reprodutivo. As pesquisas mostram que um treinamento em comunicação feito pelos profissionais de saúde com os pais seria muito benéfico a eles, de modo que aprenderiam a lidar com este tema em conversas com outras pessoas e poderiam planejar a maneira de dividir a informação com o futuro filho, preparando-os para esse momento que não precisa ser angustiante ou traumático, mas apenas um momento compartilhado entre os pais e a criança.